SAIU NA MÍDIA | VEJA: PÁGINAS AMARELAS – “A direita vai se unir”

Por Laísa Dall’Agnol

À frente de seu primeiro mandato como senadora, a ex-ministra Tereza Cristina (PP-MS) diz acreditar em um reagrupamento de forças da direita no Brasil — ainda com Jair Bolsonaro em alguma posição de destaque. Para ela, o ex-presidente, inelegível ou não, será um grande cabo eleitoral nas eleições municipais de 2024, termômetro, acredita, para o ainda distante pleito nacional de 2026. Líder do PP no Senado, ela vem ganhando força nos bastidores como uma das alternativas para herdar o espólio político do ex-presidente, ao lado de nomes como os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ratinho Jr. (Paraná). “Se meu nome estiver à mesa, vamos pensar. Ainda é cedo”, afirma ao ser questionada sobre uma candidatura ao mais alto cargo da República. Representante da centro-direita muito antes de existir o governo Bolsonaro, a ex-chefe da Agricultura é considerada uma das porta- vozes do agronegócio, um setor vital para a economia brasileira. A sua mais recente empreitada inclui liderar o Instituto Campos, um think tank de inspiração liberal criado neste ano para promover debates e formular propostas ao país e que já conta com o apoio de políticos, empresários, representantes do mercado financeiro e, claro, produtores rurais. Em meio à queda de braço de dois caciques do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), sobre a postura a ser adotada em relação ao governo Lula, a ex- ministra defende que a sigla permaneça “independente” e faça “oposição responsável” a determinadas pautas do Planalto. Leia a entrevista concedida na redação de VEJA em São Paulo.

A senhora já era uma representante da centro-direita antes de entrar no governo Bolsonaro. Como avalia o futuro desse espectro político no momento em que o ex-presidente é alvo de várias investigações? Acredito que a direita vai estar mais unida, ela terá que mostrar a que veio, que está organizada. Temos partidos que caminharão juntos já na eleição de 2024: o PP, o PL, o Republicanos e, em alguns estados, o PSDB e o MDB. Haverá uma recomposição de forças.

Como a senhora vê essas investigações em torno de Bolsonaro? É um momento de recolhimento do bolsonarismo? Acho que a gente tem que tratar melhor os ex- presidentes. Vejo que no eleitorado, e falo pelo meu estado, Mato Grosso do Sul, não aconteceu mudança nenhuma. A eleição de 2022 ainda está posta: quem é de direita é de direita, e quem é de esquerda é de esquerda. O centro é que precisa ser mais trabalhado e é onde esses dois lados terão que disputar voto.

E qual a sua avaliação sobre o futuro político do ex- presidente? Vai depender da Justiça. Se continuar inelegível, ele será um grande cabo eleitoral. Mas no Brasil até o passado é incerto.

Aconteceu uma tentativa de golpe em 8 de janeiro? Sinceramente, não. Houve um problema de vandalismo, de quebra-quebra, uma coisa de turba, multidão que se junta e acaba fazendo coisas que são inaceitáveis na minha opinião. Mas não vejo que era um golpe. Se fosse, acho que não seria concebido daquela maneira. E também acho muito estranho que essas pessoas não tenham sido coibidas antes de chegar à Praça dos Três Poderes. A CPMI tem que apurar os fatos, pois precisa ficar para a história o que realmente aconteceu. Acredito na Justiça. A pena tem que ter uma dosimetria de acordo com o delito de cada um.

O seu nome tem sido colocado como uma possibilidade para representar a centro-direita em 2026. Uma eventual candidatura está no radar? Sinto-me honrada por ter meu nome lembrado para o mais alto cargo da República, mas acredito que 2026 ainda está longe, e precisamos passar primeiro por 2024. Ninguém é candidato de si próprio. É claro que, lá na frente, essa conversa pode surgir de novo. Se o meu nome estiver à mesa, vamos pensar. Por enquanto, ainda é cedo.

Recentemente, a senhora lançou o Instituto Campos. Qual é o objetivo? Vai funcionar como uma casa de saber. Vamos debater diversos temas, como a produtividade no Brasil. Comparado ao mundo, o quanto estamos atrasados? Quais os gargalos? O que precisamos fazer para dar esse salto de produtividade, para que aporte recursos em infraestrutura, logística, tecnologia, inovação, e não apenas em investimentos na bolsa e de curto prazo. No Congresso, a coisa chega mais ou menos pronta e não há tempo de se aprofundar no debate. A ideia é levar um tema estudado, a partir do qual o legislador poderá fazer a sua parte.

No início de setembro, a senhora foi a um evento em São Paulo que contou com personagens graúdos do antigo PFL, como o ex-senador Jorge Bornhausen, e foi bastante elogiada como uma “figura de liderança”. Esses nomes têm participado da construção do instituto? Nessa ocasião, fui a um jantar na casa do ex-ministro Gilberto Kassab, na qual estava o pessoal do PFL. Tivemos uma conversa muito agradável, apresentei o instituto, muitos querem participar. Mas ele não tem nada a ver com política partidária, e sim com políticas de Estado.

Arthur Lira tem declarado que o PP é base do governo Lula, no qual tem cargos, como o do ministro André Fufuca (Esporte). Já o presidente da sigla, Ciro Nogueira, diz que a legenda é e continuará sendo oposição. Qual é, afinal, a posição do PP? Acredito que vai continuar sendo independente. Na Câmara, vejo que tem uma parte que quer aderir à base, e tem outra que não quer. Isso não é uma coisa que está pacificada. Lira tem muita força com os deputados, trabalha com o colégio de líderes de maneira muito próxima, tem passado as votações que quer, mostrado a sua força e liderança como presidente da Câmara. Mas o partido como um todo já é outra coisa.

E no Senado, qual é o cenário? A bancada inteira do PP é de oposição. Nos opomos, por exemplo, a esse modelo de governo que gosta de inchar a máquina. Mas não somos contra apenas por ser contra, como o PT fez no passado, quando nem na Constituição votou a favor. Somos uma oposição responsável e, quando precisamos votar a favor do Brasil, assim o fazemos.

A direção do PP lançou a “Agenda Central”, uma cartilha de princípios “inegociáveis” da legenda. Qual é o propósito? Precisava haver um freio de arrumação. Hoje ninguém sabe o que cada partido pensa, qual é a ideologia. Com as diretrizes, vai ficar mais claro o posicionamento da sigla sobre diversos temas, principalmente na economia. E facilitará o posicionamento em relação a qualquer governo.

Como o agronegócio avalia o governo Lula? O Ministério da Agricultura vai bem porque a agricultura vai bem. É só a gente não atrapalhar. Apesar da queda nos preços das commodities, o ministro Carlos Fávaro está abrindo novos mercados. A pasta deve continuar no seu papel de fazer um Plano Safra mais inclusivo, arrumar mais recursos. Precisamos, além de crédito, de seguro rural. Estamos com poucos recursos e o seguro é fundamental, principalmente em anos como este, de mudança climática drástica.

A senhora tem dito que o governo usa “desculpas para atrasar” o acordo União Europeia-Mercosul. Na última semana, porém, o Mercosul lançou um documento sinalizando estar disposto a negociar. As tratativas vão avançar? Estou mais otimista do que antes, mas ainda tenho incertezas. O governo procurou as palavras certas ao, junto com nossos pares da América do Sul, deixar claro aquilo com que não concorda. A side letter (novas exigências da UE ao Mercosul) é um absurdo, porque temos um capítulo de sustentabilidade no corpo do acordo de 2019. Sabemos que temos obstáculos. Países como França, Irlanda, Bélgica têm outros lobbies internos e têm medo da competição com o Brasil, principalmente com o agronegócio.

Alardeada como algo que poderia abalar o governo, a CPI do MST caminha para um fim melancólico. Como avalia o trabalho da comissão? O MST está totalmente equivocado quando fala de invasão. A sociedade não aceita mais isso. O Incra tem 92 milhões de hectares para assentamentos de reforma agrária. Há que se fazer um reordenamento disso e, se for necessário, comprar mais terras. Agora, fazer isso trazendo insegurança jurídica e questionando propriedade privada produtiva é uma coisa do passado. Não vejo o que o governo ganha trazendo esse grau de incerteza ao setor que tem carregado a economia.

O STF decidiu há poucos dias que é possível fazer reforma agrária mesmo em terras produtivas. O que pensa dessa decisão? Na Constituição, não está clara a definição do que é desapropriação em terra produtiva. Isso acaba sendo uma provocação para que o Legislativo regule melhor.

O Supremo também deve decidir sobre o marco temporal. Até agora, a maioria é a favor de considerá-lo inconstitucional. O que acha? Ao não firmar uma data, continua a insegurança jurídica. Há uma confusão de que, se passar o marco, não haverá mais demarcação de terra indígena. Isso não é verdade. O Estado, a qualquer momento, pode corrigir injustiças. Ao mesmo tempo, só no Mato Grosso do Sul temos sessenta invasões de propriedades produtivas com reintegração de posse, que ainda não foram reintegradas. Também é injustiça tirar a pessoa que está lá, gente de boa-fé, que tem título, escritura, algumas de 100 anos. E aí são retiradas e não recebem nada? Vão discutir apenas a indenização das benfeitorias? Tem muita ideologia nesse assunto, mas ele está maduro para ser resolvido.

Um outro tema polêmico na pauta do agro é o marco dos defensivos agrícolas, hoje no Senado. Ele poderá ser votado neste ano? Espero que sim. O projeto está na mão do senador Fabiano Contarato (PT-ES), que precisa terminar seu relatório. Sãopautas importantíssimas para a economia e que não são políticas, mas foram politizadas. Tentam demonizar, dizendo que vamos aprovar veneno, e não é nada disso. É como remédio: se há uma medicação nova para uma doença, por que vou usar uma ultrapassada, com mais efeito colateral? Vou trazer medicamento novo, para que seja aprovado.

A regulamentação do mercado de carbono tem sido algo bastante presente nas suas falas. A senhora vê uma aprovação no horizonte? O projeto do governo é bom, mas tímido. Precisamos ampliá-lo. O Brasil tem a oportunidade de ser líder em crédito de carbono. Temos a matriz energética mais limpa do mundo, uma agricultura altamente sustentável, e as nossas indústrias estarão abrigadas nesse mercado para fazer as compensações. É preciso regular, mas temos que fazer da maneira correta, fazer esse mercado do tamanho que ele deve ter. O Brasil precisa ser protagonista.

Publicado em: VEJA 22 de setembro de 2023 (edição nº 2860)

Sociedade Nacional da Agricultura: Entrevista com a Senadora Tereza Cristina

Por Marcelo SáEquipe SNA

A SNA conversou com a Senadora Tereza Cristina , engenheira agrônoma de formação e ex-ministra da Agricultura entre 2019 e 2022. Após atuação no Secretariado de Mato Grosso do Sul, foi eleita duas vezes deputada federal pelo estado, quando recebeu o convite para assumir a pasta. Após sua passagem pela Esplanada, venceu a disputa pela vaga no Senado e tem se destacado em poucos meses de mandato, como líder do seu partido na Casa.

Na conversa, ela fala sobre seus anos iniciais na iniciativa privada, sua entrada na política e os agitados anos de Ministério, em tempos de polarização e pandemia. Também elenca os principais desafios que enfrentou e como era a integração com outros titulares do governo, no enfrentamento das crises e implantação de políticas públicas.

A Senadora discorreu, ademais, sobre a necessidade de o agronegócio ser valorizado, as propriedades respeitadas e o gargalo logístico vencido, para que o País se consolide ainda mais como expoente do setor.

Parte de um grupo egresso da gestão anterior que teve forte êxito nas últimas eleições, ela reflete sobre a mudança de perspectiva ao voltar ao Congresso, dessa vez como oposição, e dos rumos para o futuro. Se diz otimista e expõe, a seguir, as razões para tanto. Confira!

SNA: A Sra. assumiu como Ministra após ser reeleita como deputada federal, e esteve no comando da pasta até março de 2022, para em seguida voltar ao Parlamento como senadora. Esse arco da sua trajetória coincide com um período especialmente turbulento no país, em meio à forte polarização política, desafios econômicos e uma pandemia. Como é participar tão ativamente do debate público durante esses anos de eventos tão marcantes?

Senadora: É muito desafiador. Vivi muitas fases e crises, e, para aprender e avançar, é preciso ter foco e fôlego. Minha trajetória me permitiu aprender. Depois de formada em Engenharia Agrônoma, trabalhei em propriedades rurais, empresas privadas e em entidades rurais e do Sistema S. Tudo isso me deu subsídio para dar assumir um cargo político no comando da Secretaria de Desenvolvimento Agrário, Produção, Indústria, Comércio e Turismo do Governo do Estado Mato Grosso do Sul. Acredito que os longos anos ali no Executivo Estadual, depois no Legislativo, no Executivo Federal, somados às experiências anteriores, foram importantes para abrir um panorama que possibilitou conhecer por dentro o setor agrário brasileiro.

Como ministra da Agricultura, enfrentei os desafios internos e externos, provocados por uma crise mundial na saúde pública. Mantivemos, em 2020 e 2021, o compromisso de preservar e cuidar dos setores essenciais, como a produção agropecuária nacional. Era nossa responsabilidade não só com o produtor, mas com toda a população brasileira, porque o alimento precisava chegar à mesa das famílias e os contratos de exportação tinham de ser honrados. E deu certo, graças aos esforços de muita gente! Tanto que o IBGE divulgou, à época, que o PIB do País caiu 9,7% no segundo trimestre de 2020, em relação ao primeiro, pois os setores econômicos sofreram durante a pandemia, devido, num primeiro momento, à necessidade de isolamento social e à queda da demanda. Mas a agropecuária foi o único setor produtivo que apresentou crescimento durante a pandemia.

Quanto à política, meu caminho sempre foi o do bom senso, o do diálogo, mesmo entre antagonistas, e da busca de equilíbrio, em favor do Brasil – e acho que o eleitor do meu Estado entendeu que a minha mensagem era coerente e sólida e me honrou com 60% dos votos válidos do Mato Grosso do Sul.

SNA: Há um choque de acomodação inevitável, ao retornar ao Congresso após sua gestão como Ministra? Sua percepção mudou após ocupar um cargo que é constante alvo de demandas e críticas, tanto de oposição quanto da base governista?

Senadora: É claro que há mudança de perspectiva, pois agora sou oposição.   No retorno ao Legislativo, pelo Senado, tenho de me dedicar ainda mais para obter resultados não só para o agro, mas para o desenvolvimento do País. Mas acho que as questões reais, as fundamentais, continuam as mesmas, e elas precisam ter continuidade, precisam ser resolvidas independentemente da ideologia política deste ou daquele governo.

O Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, é um senador, e também um produtor rural, e me parece que tem esse entendimento, sabe o que o setor precisa. Além disso, temos de concluir parcerias estratégicas, como o acordo Mercosul-União Europeia.  Preocupo-me com a busca do equilíbrio fiscal, a simplificação dos impostos e o crescimento não só no agro, mas também na indústria e nos serviços.

SNA: O agronegócio é uma indústria pujante, que alavanca o PIB e gera empregos, além das exportações crescentes e da cadeia produtiva.  A representação política rural, da qual a Sra. faz parte, infelizmente ainda recebe um tratamento pejorativo da mídia em geral, que parece desconhecer ou minimizar o setor e sua robustez para a economia nacional e sua importância nas parcerias comerciais do país. O que, na sua opinião, está por trás dessa “má vontade”?

Senadora: Recentemente comentei com amigos que o Brasil parece realmente ter problemas em valorizar e reconhecer os brasileiros que fazem sucesso; às vezes penso que só algo irracional pode explicar a falta de respeito e apreço pelos produtores rurais, que seguram, como você mesmo disse, o PIB e a balança comercial. Aliás, a imprensa não usa produtores rurais, costuma falar “ruralista”, pejorativo, como você disse, quase sinônimo de um suposto atraso que perduraria no meio rural.

O papel da agropecuária brasileira, não só na economia, mas também na prosperidade das cidades no interior do Sul, do Centro-Oeste e do Sudeste, não é conhecido nem compreendido; a maioria talvez ainda não saiba como o agronegócio hoje é tecnológico, moderno e sustentável, como é obrigado a cumprir um exigente Código Florestal. O mundo rural não é mais algo primitivo e tosco.

Temos também as questões históricas, é claro, somos um País que foi colonizado.  A outra questão é ideológica, diz respeito à disputa política entre esquerda e direita, acentuada na atualidade desde a Assembleia Nacional Constituinte, quando se discutiu reforma agrária e conceito de terra produtiva. O fato é que, além do enfrentamento político, que faz parte da democracia, setores da esquerda tentam usar uma memória histórica negativa para tentar colar no agro moderno a imagem do passado. E construíram um discurso em que a atividade que hoje segura a economia é mal-vista. Mas acho que já conseguimos mostrar que não é bem assim.

É claro que não temos compromisso com o erro, muito menos com ilegalidades, mas associar, de forma generalizada, produtor rural a crime ambiental, como faz setores deste governo, é um absurdo. Neste sentido, foi bom o presidente Lula ir recentemente à FarmShow na Bahia e se mostrar aberto ao diálogo. Precisamos lembrar ainda que o Código Florestal é de 2012 e, antes disso, houve desmatamento, inclusive na metade dos assentamentos do Incra; e não só no campo; há sérios problemas nas cidades. Todos têm de se adequar, fazendo reparação ou compensação ambiental.

Acho que quem não acompanha a mudança e está preso em alguma cápsula do passado é parte da esquerda – com o MST invadindo terra produtiva, da iniciativa privada e até da Embrapa, em pleno 2023.

SNA: Quais os principais desafios que a Sra. enfrentou à frente do Ministério, e como procurou resolvê-los na medida em que pastas correlatas, como por exemplo a do Meio Ambiente, estiveram sob intenso escrutínio, até mesmo internacional? Como era o diálogo com outros titulares?

Senadora: O governo trabalhava de forma muito integrada, com o Meio Ambiente, a Economia, a Infraestrutura e o Itamaraty. Fomos muito testados a trabalhar em conjunto durante a pandemia, o grande desafio da minha gestão, pois não podíamos deixar faltar alimento, comida, para os brasileiros. Tínhamos de manter o campo, os frigoríficos e a agroindústria funcionando em segurança e os mercados abastecidos, como já comentamos. O ministro Tarcísio de Freitas, hoje governador de São Paulo, me ajudou muito na questão dos transportes de alimentos, o apoio aos caminhoneiros foi fundamental.

Na minha gestão, tive o objetivo de modernizar a defesa agropecuária, favorecer os pequenos no Plano Safra, incentivar os programas de inovação tecnológica e as práticas sustentáveis e ambientalmente corretas. Tive grande preocupação em termos informações e dados confiáveis e hierarquizados; criamos o Observatório da Agropecuária com este fim. Também investimos em criar uma ferramenta, o CAR (Cadastro Ambiental Rural) Dinamizado, para ajudar os estados a processar programas de recuperação ambiental.

As ocorrências na Amazônia Legal, sobretudo de queimadas e desmatamento ilegal, também foram um desafio, por sua enorme repercussão no exterior.  Mas o governo nunca ficou inerte, foi criada uma força tarefa só para isso, sob coordenação do então Vice-Presidente. Enfim, houve diálogo e trabalho integrado.

E nós desenhamos, ainda na transição, a união das diversas áreas afins sob o guarda-chuva da Agricultura, sem separar grandes de médios e pequenos produtores. Também estava no Ministério da Agricultura a Pesca, o Serviço Florestal, responsável pelo CAR, a Conab, que faz, entre outras coisas, a coleta de dados sobre nossas safras, e o Incra. Infelizmente, toda essa estrutura foi desfeita pelo atual governo.

SNA: O agronegócio precisa vencer o gargalo logístico, estrutural e de transporte que o impede de crescer ainda mais. A Sra. vem de um estado fundamental nesse xadrez de produção, armazenagem e escoamento. Que projetos do Congresso podem facilitar esse processo, e quão importante é conversar com as populações e gestores locais para isso, além dos representantes da iniciativa privada, cuja parceria será determinante?

Senadora: Nosso agro seria imbatível se contássemos com uma infraestrutura adequada, já ouvi isso até de concorrentes nos Estados Unidos. Dizem: “imagine, vocês têm essa pujança com todos os problemas internos que têm de transporte e logística”. Lá eles têm portos fluviais a 10 km das fazendas.  O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de grãos, na soja somos os primeiros, e o País continua a crescer fortemente na agropecuária, como mostrou o último PIB do trimestre, com o setor subindo mais de 20%. E no Centro-Oeste, celeiro desses grãos, temos estradas em petição de miséria e dependemos do transporte em caminhões, quando deveríamos ter muito mais ferrovias e hidrovias para escoar   nossas safras.

As obras paralisadas, bem como a lentidão nas concessões, têm sido questionadas pelos senadores.  Estima-se que temos 12 mil obras inacabadas no Brasil, fruto da má gestão e dificuldades de investimentos público.  Nós temos demandas urgentes, os senadores reclamam muito do isolamento na região Norte. Estamos discutindo agora no Senado, inclusive já realizamos audiências públicas, o licenciamento ambiental. Sou relatora pela Comissão de Agricultura, do projeto que veio da Câmara.  Temos sim de preservar o meio ambiente e nossa biodiversidade, mas sem travar o desenvolvimento do País; não podemos ter estradas, ferrovias e outras obras fundamentais paradas eternamente pela falta de licença ambiental.

SNA: A Sra. e vários outros integrantes do governo Bolsonaro tiveram forte êxito nas eleições de 2022. A vitória desse grupo atesta uma aprovação mais difusa e abrangente da administração anterior, apesar do resultado desfavorável no pleito para presidente?

Senadora: Acho que uma boa definição para este cenário pós-eleições 2022 é este, que foi mencionado: “aprovação difusa e abrangente”. Nós, como oposição, obtivemos um número bem maior de parlamentares e estamos alinhados como oposição propositiva, sóbria, unida e vigilante. Isso é reflexo desse “êxito” que você mesmo mencionou na pergunta, porque somos parlamentares que têm bandeira definida e que receberam apoio da maior parte da população em diversas partes do País – ao contrário do que se pensava não era algo isolado, em nichos regionais. A oposição atual, na qual eu me incluo, representa solidamente a sociedade brasileira, tanto que temos essa força no Congresso. Então o governo, que tem uma base parlamentar diminuta, precisa ouvir e negociar com deputados e senadores.

SNA: A nova gestão tem discurso diferente quanto à segurança no campo, e as tensões, com disputas territoriais, cresceram durante a transição e após a posse do novo chefe do Executivo Federal. A Sra. experimentou um episódio pessoal lamentável nesse sentido. O País está retrocedendo no combate às invasões e danos a propriedades rurais? O que pode ser feito nesse sentido, a seu ver, num País deficitário em matéria de segurança pública e com um tamanho tão grande?

Senadora: A ameaça de invasão sempre gera insegurança jurídica e afeta o ambiente de negócios na agropecuária, o que pode acabar desencorajando investimentos e prejudicando a imagem do Brasil no cenário internacional. Fica difícil o novo governo se dissociar da responsabilidade por atos de tensões no campo, dada a sua ligação com o MST. Isso faz com ainda com que o atual governo possa ser acusado de negligente com aqueles que perturbam a paz no campo. Por causa desses extremos, temos hoje uma CPI do MST na Câmara dos Deputados. Felizmente, no meu caso, foi uma tentativa de invasão com poucas pessoas, logo dissuadida pela ação pacífica da Polícia Militar.

O próprio presidente Lula disse agora, em sua primeira live, que não é preciso invadir terras. O fato é que toda e qualquer autoridade constituída tem a responsabilidade de garantir a segurança pública e a proteção dos direitos constitucionais de todos, inclusive dos proprietários rurais, que precisam ser respeitados. O Incra tem em seu poder 90 milhões de hectares para assentamentos – é só concluir bem os processos de reforma agrária. Nos últimos quatro anos, como ministra da Agricultura, distribuímos mais de 460 mil títulos para assentados. Nosso objetivo foi proporcionar dignidade, liberdade e oportunidade de geração de renda e desenvolvimento nas regiões onde os assentamentos estão localizados.

SNA: Está otimista, no geral, com o futuro do agronegócio brasileiro?

SenadoraDepois de tudo que conversamos aqui, não há como não estar. Se o governo não atrapalhar, o agro vai continuar batendo recorde de produção, de geração de empregos, de PIB e de balança comercial.

Fonte: https://www.sna.agr.br/entrevista-com-a-senadora-tereza-cristina/