Em audiência convocada pela líder do PP, senadora Tereza Cristina (MS), o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou, nesta quinta-feira, 15/08, na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, que o governo brasileiro só vai reconhecer o resultado da votação após a publicação dos documentos que confirmam os totais de votos para cada candidato. “O Brasil não reconhecerá um presidente que não esteja fundado nas atas”, afirmou Amorim.
Senadores cobraram a definição de um prazo para que o Brasil se posicione sobre o fato de Nicolás Maduro, no poder desde 2013, ter se autoproclamado vencedor sem apresentar oficialmente os resultados eleitorais. Tereza Cristina disse que Amorim pediu “paciência” ao Senado. “Não sabemos quando o Brasil tomará uma posição mais forte. Será que o governo brasileiro vai esperar o ditador cair de maduro?
Primeira a fazer perguntas a Amorim, a senadora afirmou que a Venezuela atravessa “um quadro absurdamente antidemocrático”. “Desde o início do processo eleitoral, a oposição foi reprimida violentamente. Na prática, temos Maduro dizendo que é o vencedor. Mas por que não aparecem essas atas? O mundo está esperando há quantas semanas? Quais serão os próximos passos do Brasil? Quanto mais tempo levarmos para uma decisão, mais difícil ela vai ficar para o Brasil”, afirmou.
Novas Eleições
A senadora também criticou a proposta de Amorim e do presidente Lula de organizar uma nova eleição na Venezuela – “uma ideia esdrúxula e ilógica, algo que a oposição venezuelana não aceita”, destacou. “Minha pergunta, embaixador, é simples: guardadas as diferenças, o senhor faria essa mesma recomendação no Brasil?”, questionou.
“Se o presidente Lula disputasse como opositor uma eleição, tivesse em seu poder 80% dos boletins oficiais de urna que atestariam sua vitória, como aconteceu com a oposição na Venezuela, seria esse o seu conselho? Fazer, diante de todos os indícios de fraude, uma nova eleição, sem proclamar o resultado da primeira?”, indagou a senadora.
Tereza Cristina também quis saber por que Amorim não se encontrou, quando esteve em Caracas, com a líder da oposição, Maria Corina Machado, e por que não quis ver as 25 mil atas originais que atestam a vitória de Edmundo González. “A posição do governo Lula, até aqui simpática ao usurpador Maduro, vai se tornando cada dia mais insustentável e não é aceita pelo nosso povo”, finalizou a senadora.
Críticas de oposicionistas e de governistas
O presidente da CRE, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse durante a audiência pública que “a transparência é um componente indissociável da legitimidade de qualquer pleito” e que a eleição na Venezuela é contestada porque não foi transparente.
Já o senador Sergio Moro (União-PR) cobrou de Celso Amorim uma posição do governo brasileiro contra os assassinatos, prisões e torturas cometidos pelo governo Maduro. Em resposta, Amorim condenou os casos de violação aos direitos humanos.
Parlamentares governistas e da oposição também se manifestaram contra o regime autoritário na Venezuela. O senador Dr. Hiran (PP-RR) disse que o governo de Nicolás Maduro “causa muito sofrimento”. “Não existe democracia na Venezuela. É o maior êxodo humano do nosso século. Um país que causa esse dano inominável aos seus nacionais não pode ser reconhecido por nós, que somos exemplo de acolhimento, democracia e tolerância”, afirmou.
O senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), que é líder do governo no Congresso, classificou o governo de Nicolás Maduro como “um regime de exceção” e disse que as instituições democráticas no país “foram rompidas”.
A audiência pública contou ainda com a participação dos senadores Augusta Brito (PT-CE), Damares Alves (Republicanos-DF), Esperidião Amin (PP-SC), Nelsinho Trad (PSD-MS), Rosana Martinelli (PL-MT) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).
As eleições na Venezuela devem ser tema de outra audiência pública, ainda sem data marcada. Os parlamentares também devem ouvir o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Com informações da Agência Senado.